Qual a relação entre alergia a proteína do leite de vaca (APLV) e refluxo gastroesofágico (RGE) ou a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE)?

É verdade que o número de diagnósticos de APLV tem aumentado, mas isto não significa que o número de crianças com esta condição clínica tenha aumentado.

Não há dúvida que a prevalência de doenças alérgicas em pediatria aumentou em geral, mas a maioria dos estudos continua colocando uma prevalência de APLV na ordem de 2 a 5% dos lactentes (crianças de 28 dias de vida até 2 anos de idade que ainda mamam ou tomam alguma fórmula de leite).

Entretanto, você sabe a relação entre essas condicões, a alergia a proteína do leite de vaca, o refluxo gastroesofágico fisiológico e a doença do refluxo gastroesofágico? 

Sobre o refluxo!

O RGE é caracterizado pelo retorno de conteúdo gástrico para o esôfago, com ou sem vômito e regurgitação. Pode ser considerado um processo fisiológico que ocorre várias vezes por dia em todas as pessoas saudáveis, independentemente da idade. Assim, episódios de RGE ocorrem em indivíduos saudáveis, com duração menor que 3 minutos, principalmente no período pós-prandial.

Grande parte dos lactentes apresentam RGE fisiológico nos primeiros meses de vida, com episódios de regurgitação, na maioria das vezes não associados a sinais ou sintomas de complicações ou comprometimento nutricional. Entre 3 e 4 meses de vida, é descrito que 70% dos lactentes apresentem sintomas de RGE.

Já a DRGE é caracterizada quando o RGE leva a sintomas incômodos, com consequências funcionais e/ou complicações. Entretanto, definir o que é “incômodo” em crianças que ainda não falam pode ser difícil. Além disso, os sintomas atribuídos à DRGE em lactentes, como choro, arqueamento do tronco, regurgitação e irritabilidade, também podem ocorrer em muitos bebês que não têm DRGE. A falta de ganho de peso e a recusa em se alimentar são sinais que podem ser também notados.

Nas crianças maiores e nos adolescentes, os principais sintomas já são mais facilmente identificados pela verbalização:

  • Azia (queimação)
  • Dor retroesternal (no peito) ou epigástrica (no estômago)
  • Náuseas e vômitos
  • Dificuldade para engolir e engasgos
  • Sensação de barriga sempre cheia
  • Falta de apetite
  • Sintomas respiratórios (tosse, rouquidão)

O acompanhamento com o pediatra, a partir da história clínica e o exame físico, é fundamental para diferenciar entre RGE e DRGE, para identificar possíveis complicações da doença e para excluir patologias mais graves que necessitam de investigação e manejo específicos. Os guias de recomendações médicas apontam os sinais de alarme que indicam a necessidade de avaliação para descartar complicações da DRGE ou detectar a presença de patologias mais graves.

Sobre alergia a proteína do leite de vaca!

A alergia à proteína do leite de vaca (mais conhecida como APLV) é uma reação alérgica às proteínas presentes no leite de vaca ou em seus derivados (queijo, iogurte ou outros alimentos que contêm leite). Esta é a mais frequente das alergias alimentares.

As manifestações clínicas da APLV dependem do tipo de resposta do sistema imune à presença do alérgeno: IgE mediada, não IgE mediada ou mista. No primeiro caso, a reação ocorre geralmente em até duas horas após o contato com o alérgeno e é caracterizada por alterações na pele (urticária e inchaço na superfície da pele) e na mucosa da boca, que podem ser acompanhadas de manifestações respiratórias (rinite, asma) e gastrointestinais (vômitos e dores abdominais), até anafilaxia (reação mais grave que pode comprometer diversos órgãos do corpo). Já as reações não mediadas por IgE demoram mais a aparecer e normalmente são relacionadas a sintomas gastrointestinais como cólicas e diarréia, vômitos e possível perda de peso; podendo também ocorrer dermatite. Nas manifestações mistas dermatite (inflamação na pele), refluxo e esofagite representam os principais sintomas, mas a asma pode ser detectada como uma das reações.

A relação entre APLV e DRGE!

Como vimos, sintomas sugestivos de DRGE podem ser conseqüência de APLV. Sendo então o RGE e a APLV duas condições prevalentes, não é de surpreender que muitas crianças tenham ambas as condições.

Uma condição pode interferir na outra: os sintomas de RGE tem levado pediatras a iniciarem medicamentos, sendo que esses podem interferir na absorção de proteínas alimentares e favorecer o surgimento das alergias alimentares. Por outro lado, crianças com alergia às proteínas do leite de vaca desenvolvem alterações motoras no trato digestório superior, com redução do esvaziamento gástrico, o que promove piora do RGE.

Sendo APLV de prevalência alta em lactentes, é recomendável que em lactentes com RGE sintomático, sempre se pense neste diagnóstico. Assim, RGE e APLV são sim frequentes em lactentes e crianças maiores e devem ser manejados com cautela para melhorar os sintomas que estes pacientes apresentam.

Quer ler mais conteúdos como este? Acesse o nosso post e saiba quais as principais alergias em crianças! Até a próxima!

 

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